por Folhapress

A ansiedade em relação à Covid-19 nos Estados Unidos está em seu nível mais alto desde o inverno americano, que acontece entre os meses de dezembro e março no Hemisfério Norte.
Nova pesquisa aponta que 41% dos entrevistados estão extremamente ou muito preocupados com a possibilidade de suas famílias ou de eles mesmos serem contaminados pelo vírus, percentual similar a janeiro, durante o último grande pico de contaminação no país, quando 43% tinham o mesmo temor.
O estudo do Centro de Pesquisa de Assuntos Públicos da Associated Press-NORC também descobriu que a maioria dos adultos americanos deseja que aqueles que vão a cinemas, estádios, shows e outros eventos com aglomerações sejam obrigados a se vacinar. Para essas pessoas, a medida deve ser estendida a quem viaja de avião e a trabalhadores de hospitais, restaurantes, lojas e repartições públicas.
"Não estou tão confiante quanto à capacidade de os EUA cuidarem de sua população", disse o analista de negócios David Bowers, 42. Apoiador do Partido Democrata e morador da cidade de Peoria, no Arizona, ele já foi vacinado, assim como a mulher dele, que é professora de escola pública. A preocupação do casal são as filhas, de 7 e 9 anos, que estudam num estado cujo governador, o republicano Doug Ducey, 57, chancelou uma lei para impedir que os distritos educacionais imponham o uso de máscaras.
AUMENTO NAS MORTES
Quase 200 milhões de pessoas, ou pouco mais de 60% da população dos EUA, havia recebido ao menos uma dose da vacina até esta quinta-feira (19), de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, na sigla em inglês). Pouco mais da metade da população foi totalmente vacinada.
Ainda assim, hospitais em todo o país tinham mais de 75 mil pacientes com coronavírus na semana passada, um aumento dramático em relação a algumas semanas. Nesta terça-feira (17), os EUA registraram mais de mil mortes por Covid-19 pela primeira vez desde março.
Os estados de Oregon, Flórida, Arkansas, Havaí, Louisiana e Mississippi também estabeleceram recordes de hospitalizações por coronavírus nos últimos dias, e o aumento da presença da variante delta, combinado a baixas taxas de vacinação, produziu uma corrida para encontrar leitos.
A pesquisa da AP-NORC sugere ainda que, apesar do aumento dos casos e da maior preocupação com o vírus, desde junho os americanos não intensificaram os cuidados para evitar a disseminação da doença.
Ao menos metade dos entrevistados, porém, afirma que sempre ou frequentemente usa máscara quando está perto de outras pessoas, fica longe de aglomerações e evita viagens não essenciais.
A confiança nas vacinas contra as variantes também não diminuiu, e as autoridades de saúde dos EUA anunciaram nesta semana planos para aplicar doses de reforço a partir de setembro.
Carla Jones, 37, tem problemas relacionados a imunidade e é paraplégica --passou a usar cadeira de rodas após ficar gravemente ferida em um acidente de carro. Devido à sua saúde, o médico disse que ela não poderia tomar a vacina, o que a deixa ansiosa nas consultas e quando os netos a visitam.
"Se vejo alguém ao meu lado sem máscara, meu coração bate mais rapidamente", disse Jones, que vive em Lafayette, na Louisiana. Democrata, ela é muito favorável à vacinação e à obrigatoriedade do uso de máscara. "Para o bem de todos. Não tenho escolha, mas não gostaria de contaminar mais ninguém."
DEMOCRATAS X REPUBLICANOS
A pesquisa mostra também que 55% dos entrevistados apoiam a exigência de que os americanos usem máscaras perto de outras pessoas fora de casa, enquanto 62% são favoráveis à exigência do item especificamente para trabalhadores que interagem com o público, como em restaurantes e lojas.
Oitenta e cinco por cento dos democratas e 39% dos republicanos concordam com a obrigatoriedade do uso de máscaras para funcionários públicos. Robbie Allen, um aposentado de 63 anos de Clifton, no Texas, está totalmente vacinado e usará máscara quando exigido por lojas ou outros lugares. Mas o autodenominado independente que se inclina para o lado republicano insiste que o uso do item é uma questão de escolha pessoal e vê a imposição como algo que tira a alegria da vida.
"A Covid não está indo embora muito rapidamente, mas não acho que as pessoas devam viver com medo", disse Allen, que foi com a namorada ao Sturgis Motorcycle Rally, que atraiu centenas de milhares de pessoas à Dakota do Sul. "Pessoas vão morrer, mas se todos se apavorarem, a vida ficará terrível."
As diferenças partidárias também são grandes quanto aos requisitos de vacinação. No Arizona, Bowers já tirou uma folga do trabalho para pegar uma de suas filhas na escola depois que ela teve febre alta. Eles passaram horas na semana passada procurando um local que realizasse teste para Covid no esquema drive-thru e que não estivesse superlotado. O resultado deu negativo, mas as preocupações persistem.
"Meu pensamento é que as pessoas que não querem obrigatoriedade nas medidas de precaução contra o alastramento do vírus são aquelas que precisam de regras", disse Bowers. "Há uma pequena maioria neste país tomando as decisões certas. Se não fosse por essa parcela, estaríamos em apuros."