por Fernando Duarte

Foto: Elói Corrêa/GOVBA
O ex-ministro da Cultura, Juca Ferreira, nunca foi uma figura presente na cena política soteropolitana. Pelo menos ao longo das décadas mais recentes. Porém, ao se apresentar como pré-candidato do PT à prefeitura de Salvador, ele tem sido responsável por apresentar verdades inconvenientes aos correligionários. Em entrevista ao Bahia Notícias, Juca foi bem explícito ao falar sobre as contradições do processo. E com razão.
A crítica mais incisiva foi à possível indicação da major Denice Santiago como candidata do PT ao Palácio Thomé de Souza. Apesar de afirmar não conhecer o trabalho dela, Juca ressaltou a anomalia que é o petismo clássico aceitar de bom grado a indicação de um egresso do militarismo como candidato. Como a legenda no passado tendeu a ser a favor da desmilitarização das polícias militares, pinçar uma oficiala sem ligação partidária mostra que mandar a história às favas é possível quando se há interesse em projeto de poder.
E Denice não chega a ser a única militar que vislumbra apoio do petismo na Bahia. Outro candidato, deputado federal Sargento Isidório, também tem origem na Polícia Militar, ainda que esteja formalmente fora do círculo há quase 20 anos. Por ironia do destino, fruto parlamentar de um motim de PMs, no início dos anos 2000. Juntos como candidatos apoiados pelo governador Rui Costa, Denice e Isidório provam que o discurso do antimilitarismo ficou completamente cristalizado no passado longínquo de quando o PT tinha um projeto político – não um programa de poder.
O “erro simbólico” tratado por Juca na conversa com os repórteres Bruno Leite e Matheus Caldas pode ser também interpretado a partir da ótica da outsider alçada como candidata de um partido tradicional. Denice está longe de ser uma política profissional. Isso funcionaria melhor dentro de uma sigla que atuasse menos com o fígado, algo que definitivamente não é o caso do PT. Ainda assim, a tendência atual é que Rui e os petistas paguem para ver com a major “escolhida” como candidata.
Como se não bastasse o calo Juca Ferreira, até mesmo o ex-presidente da Petrobras, o petista de carteirinha José Sérgio Gabrielli, endossou a crítica a militarização da política. E foi ainda mais longe nesta terça-feira (3): o governo de Rui não é de esquerda. Ele usou uma forma bem discreta para evitar dizer que o correligionário é de direita. “É um governo de coalizão”, disse ele. Tirando pelas declarações de membros do próprio partido, definitivamente o governador está longe de estar com a moral em alta com todos os aliados.
Este texto integra o comentário desta quarta-feira (4) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para as rádios Irecê Líder FM, Clube FM, RB FM, Valença FM e Alternativa FM Nazaré.
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